A peça “O Tempo e o Cão” é uma ação da Cia Teatro Documentário, que usa um termo muito interessante (work in progress) para construir através de fragmentos apresentados pelo público, parte das cenas. O Parada Pop esteve presente no último dia 06.04, e conferiu tudo sobre esse projeto incrível.

Estamos acostumados com peças teatrais tradicionais ou musicais, onde a plateia apenas consome o que está pronto. Mas, vale a pena entender como o público pode fazer parte da construção com suas ideias.

O teatro documentário tem como principal característica usar memórias, documentos e fatos para elaboração do espetáculo, logo “se distingue particularmente por apresentar uma dramaturgia documentária que faz uso da reutilização de fontes e documentos históricos.”¹

“O tempo e o cão não é uma peça de teatro, mas sim, uma peça em construção.” Essa frase foi exposta aos espectadores no início do espetáculo e todos nós, fomos convidados a escrever intervenções para a cena ao sinal do relógio. Considero então, um dos primeiros passos para interação e aproximação do público com a apresentação.

Em uma breve conversa com o diretor Marcelo Soler, ele explicou que tudo é montado na frente do público e que essa é uma proposta diferente. Rapidamente isso ficou claro, ao observar os trabalhos de produção dos atores e equipe nos “bastidores” da peça, que estavam visivelmente ao alcance do público, pois possibilitava aprofundar ainda mais nesse processo, observando a montagem, organização do cenário e a preparação do ator.

A peça utiliza de histórias documentais para compor-se, e os temas são: os pardais que tinham morada em uma seringueira localizada em frente a uma padaria na zona leste; o cavalo resgatado de um circo que vivia numa espécie de haras na zona sul; o leão de uma trupe de circo da zona norte e o cachorro que morava na via expressa da zona oeste. A história é inspirada em parte do relato documental que está no início do livro da psicanalista Maria Rita Kehl, O Tempo e o Cão.

Ressalto a surpreendente cena sobre o leão de uma trupe de circo, pois estávamos tão próximos da história contada, que foi impressionante a imersão que aconteceu naquele momento. Além do trabalho incrível dos atores, que transmitiam a presença de suas personagens em cena de uma forma vibrante e poética, o corpo falava o tempo inteiro, mesmo quando não se escutava o som das palavras.

Ficou com vontade de assistir? Garanto será uma experiência única, onde sua participação e contribuição será muito importante para transformar a peça, ou não. Porém, com toda certeza, o importante é a abertura para reflexão que a peça traz consigo.

Acontece no Canteiro Aberto na Vila Itororó que é um espaço que pode ser utilizado para ensaio de dança ou teatro, aulas e encenações.

O espetáculo estará em cartaz até 11 de maio, com apresentações todas as sextas e sábados às 18h.

Ficha técnica:

Elenco: Carolina Angrisani, Danielle Lopes, Gustavo Curado e Márcio Rossi

Encenação: Marcelo Soler

Mediação: Aline Ferraz e Marcelo Soler

Produção: Alessandro Fritzen Figurino: Daíse Neves

Serviço:

Até 11/5 às 18h – todas as sextas e sábados

Vila Itororó Canteiro Aberto – Rua Pedroso, 238 – Bela Vista

Entrada gratuita – ingressos são liberados uma hora antes de cada apresentação

Extra:

Crédito imagens: Gabrielle Mitsue

Citação 1: Davi Giordano – https://performatus.net/estudos/teatro-documentario/

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Alinne Torre

Formada em Comunicação Visual e em Jornalismo. Adora transmitir informação e entretenimento para o público jovem.

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